Libertação

    Desaprendendo Inglês.

Aos 14 anos resolvi aprender inglês na escola mais bem-conceituada da cidade. Quando se tratava de educação, meu pai sempre fazia questão do melhor para mim. Não fazíamos parte da classe média alta, mas ele sempre se esforçava para investir no meu futuro. Serei eternamente grata ao meu pai por isso.

Nessa escola eu me sentia pequena diante da posição social das outras alunas, e era excluída (ou me excluía) do grupo, pois o assunto nunca me interessava: quem morava no melhor bairro,quem frequentava o melhor salão “de beleza”, quem fez a melhor viagem ao exterior, quem usava a melhor grife, quem tinha sido destaque na coluna social…enfim, era uma eterna disputa de poder aquisitivo, e eu achava tudo aquilo muito fútil.  Minha melhor amiga era uma garota que também fazia parte da alta sociedade,mas que tinha um pensamento semelhante ao meu. Ela era excluída do grupo por ser mulata (havia muito preconceito naquele ambiente hostil). Rosinha era linda, elegante no andar, no vestir e no falar. Tinha os cabelos longos, ondulados e perfumados. Era um amor de garota.

Lembro bem de uma mulher na sala de aula (bem mais velha do que eu), que frequentemente aparecia na coluna social do jornal mais importante da cidade. Nos dias de prova, ela sempre ia de mini saia, e quando o professor dava as costas, ela consultava as coxas, pois lá estavam as “colas” escritas com letras bem legíveis!  Eu pensava: Nossa! Isso não faz sentido! A pessoa está aqui para aprender inglês, e fica colando!

O ensino era de qualidade, mas eu não terminei o curso por vários motivos, e um deles era porque eu me sentia uma ET em sala de aula…

Eu sempre faço uma ilustração para cada conto, mas esse terá uma a mais... Claro, eu tinha que desenhar a beleza de Rosinha, minha melhor amiga.