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Libertação

                                                 Libertação

Não tenho boas lembranças dos 8 anos em que estudei num colégio de freiras. Sofri muito bullying tanto das alunas quanto das próprias irmãs, que de amáveis não tinham nada. Claro, havia uma exceção. Lembro bem da irmã Lily, a única que tratava todas as crianças com carinho e sem discriminação. As outras, desde as professoras até a madre superiora, se relacionavam com cada aluna de acordo com o status da família, a cor da pele e os presentes que ganhavam.  Bom, mas o que eu quero falar aqui, é sobre um ato de liberdade que eu presenciei e guardei no coração até hoje.

 Uma das freiras havia deixado o hábito, e não se falava em outra coisa no colégio. No sábado seguinte a esse fato surpreendente e escandaloso para os moralistas de plantão, houve uma festa de 15 anos na casa de uma das alunas. Como eu era da mesma turma da irmã da aniversariante, fui convidada. Surpreendendo a todos, a freira que havia deixado o hábito, estava lá, dançando, bebendo, fumando e conversando com os rapazes. A alegria dela vinha da alma e explodia no olhar, no sorriso e na dança. As pessoas só reparavam na bebida e no cigarro, mas eu, apesar da pouca idade, só via ali uma pessoa feliz que havia se libertado do que a oprimia. 

Ela foi o brilho da festa!


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     Desaprendendo Inglês. Aos 14 anos resolvi aprender inglês na escola mais bem-conceituada da cidade. Quando se tratava de educação, meu pai sempre fazia questão do melhor para mim. Não fazíamos parte da classe média alta, mas ele sempre se esforçava para investir no meu futuro. Serei eternamente grata ao meu pai por isso. Nessa escola eu me sentia pequena diante da posição social das outras alunas, e era excluída (ou me excluía) do grupo, pois o assunto nunca me interessava: quem morava no melhor bairro, quem frequentava o melhor salão “de beleza”, quem fez a melhor viagem ao exterior, quem usava a melhor grife, quem tinha sido destaque na coluna social…enfim, era uma eterna disputa de poder aquisitivo, e eu achava tudo aquilo muito fútil.  Minha melhor amiga era uma garota que também fazia parte da alta sociedade,mas que tinha um pensamento semelhante ao meu. Ela era excluída do grupo por ser mulata (havia muito preconceito naquele ambiente hostil). Rosinha era linda,
Raposinha Triste.                                                                       Lembro que, na minha infância, havia na varanda de um casarão do bairro, três araras empoleiradas em grandes aros de aço. Faziam um barulho ensurdecedor quando passava alguém na rua. Outra casa, em outra rua, tinha um bicho preguiça que não saía do galho de uma árvore no jardim (tá, às vezes ele ia abraçado no pescoço do dono até a padaria, na hora de maior movimento). Era uma das atrações do bairro. Havia uma outra casa, com duas arvorezinhas no jardim, com plaquinhas de madeira, escrito: “pau brasil”. Já o nosso vizinho, criava uma Seriema cega de um olho (alguma criança perversa deu uma pedrada de estilingue), que vivia voando pelos telhados das casas, e passeando pelos quintais (às vezes eu me assustava com o tamanho dela, que era grande como uma ema). Era um bichinho exót